Blog Sem Fins Lucrativos, somente com o intuito de divulgar a carreira do piloto Bruno Senna e o IAS. Carol Lo Re

domingo, 29 de novembro de 2009

Bruno Senna em entrevista a Revista Revista Quatro Rodas

Em entrevista exclusiva, Bruno Senna revela os planos para sua estréia na F-1 e os desafios que terá pela frente

"Sei o que quero para na F1. E não é pouco"


Provavelmente muitos fãs que acompanhavam ou já não têm mais o mesmo interesse pela Fórmula 1 como antes estarão atentos ao GP do Bahrein, dia 14 de março do ano que vem, abertura do próximo campeonato. O motivo será essencialmente um só : A mística do sobrenome Senna está de volta à Fórmula 1. Bruno Senna estréia pela Campos, equipe espanhola que também está em sua primeira temporada. “É um sonho. Tenho consciência das minhas responsabilidades. Mas sei também o que eu quero conquistar na Fórmula 1. E não é pouco “, afirmou o ambicioso Bruno em entrevista exclusiva à QUATRO RODAS. Por mais que as realidades de Ayrton e Bruno Senna sejam distintas, será inevitável parte da torcida esperar ver em Bruno um pouco de Ayrton, que morreu num acidente no dia 1º de maio de 1994. Bruno nunca se compara em nada ao tio, mas a gana de conquistas demonstrada na Fórmula 3 e na GP2 sugere que valores como determinação, garra e perseverança, entre outros, estão presentes em seu patrimônio genético.

“ Se sinto essa pressão toda? Desde a primeira corrida que disputei [ na Fórmula BMW , em 2004 ] , convivo com essa expectativa toda por ser sobrinho de quem sou. Mas desde aquela época está claro dentro de mim que eu sou Bruno e meu tio, o Ayrton Senna. Se alguém achar que sou ele, paciência, terá de rever seu conceito. O que posso garantir é que o que os outros esperam de mim não muda minha maneira de enfrentar meus desafios” afirma Bruno, sempre tomando o cuidado de não se deixar levar pelo mito Ayrton. “ Meu tio é o piloto que mais admiro, mas não o único. Há outros, como Michael Schumacher e Fernando Alonso.” Quer chegar a esse nível?, é a pergunta de muitos. “ Claro, vou para a F- 1 para tentar ser campeão. Se possível, fazer mais que todos eles “ O sobrenome Senna até agora mais ajudou ou atrapalhou? “ Colaborou muito para chegar até aqui. Abriu as portas para conseguir patrocinadores. Poderia ter comprometido também minha evolução se eu não aprendesse a me isolar do que esperam de mim.”

Mas o piloto lembra que as vantagens do nome acabam no cockpit. “Quando você abaixa a viseira, se você se chama Senna, ou seja lá o que for, ninguém quer saber. Se você não se mostrar capaz, não corresponder ao que a profissão exige, pode ser quem for: Não irá pra frente. Nesse sentido, meu desafio foi maior que o da maioria: saber administrar a cobrança do sobrenome Senna e responder com resultados.”

Bruno parece não ter dúvidas ao falar do futuro. “ Se olhar pra trás, verá que eu fiz tudo isso. E é essas base que me dá certeza de que poderei fazer o mesmo na F- 1, embora tenha consciência de que na F-1 esse tempo é ainda menor que o já curto que tive. Mas não me assusta.” Por onde vai, Bruno é assediado por torcedores e imprensa, mas tem conseguido conciliar a todos, sem que depois , por vezes minutos mais tarde apenas, sente no carro e perca performance. É uma de suas grandes virtudes, hoje decisivas no automobilismo: Bruno é forte emocionalmente.

Ano de aprendizado

E o que dá para esperar de você , Bruno? “ Eu nunca competi na F-1, os testes serão bem reduzidos até a primeira etapa , minha equipe é estreante também, nosso orçamento é bem limitado. E vamos competir contra times muito mais estruturados e pilotos de maior experiência. Esse é o meu quadro e o da Campos. “ Em outras palavras comenta o piloto, seu objetivo agora é aprender. “ Para isso, preciso que a Campos me ofereça um carro que termine as corridas, a fim de que eu possa entender o que a F-1 nos cobra, evoluir como piloto e, com o tempo, mostrar meu potencial. Esse é meu plano para 2010”, afirma Bruno. “ Se tudo der certo, o que não é tão simples, poderei ter chance em algum momento de marcar pontos, só isso.”

Ninguém começa a carreira no automobilismo diretamente na Fórmula 3 britânica, aos 20 anos de idade, e já na primeira temporada, mesmo sem estar nas melhores equipes, conquista pole position e chega ao pódio se não tiver talento natural para as pistas. Foi o caso de Bruno. “ Ele me impressiona” , diz Rubens Barrichello, o mais experiente piloto da F-1, que chegará a 300 GPs em 2010. No segundo ano, Bruno disputou o título da F-3 , assim como fez na GP2, onde foi vice-campeão. Bruno é precoce. Se a Campos dispuser de orçamento para pagar à Dallara o desenvolvimento do monoposto e puder disputar as corridas sem quebras sucessivas e bom nível de desempenho, Bruno reúne elementos técnicos para crescer, e rápido, pelo que seu histórico propõe.

O teste na Fórmula 1

Tem gente que pensa que, como a Brawn GP estreou este ano e foi campeã, a Campos também pode surpreender. “ A Brawn é a Honda em que eu mesmo fiz meu único teste da F-1, em Barcelona, no ano passado. Só mudou o nome. A Campos correu de F-3 e GP2. A F-1 é novidade mesmo para ela.”, diz. Sobre o teste de Bruno, Ross Brawn não esconde que gostaria de tê-lo como piloto. “ Atento, mente aberta para ouvir as explicações e aprender, o que não é comum. Os pilotos gostam mesmo é de sentar no carro e acelerar logo, e Bruno sabe o que faz na pista. Seria interessante conhecer seu verdadeiro potencial. Pode ser alto”, diz Brawn.

Na prova da GP2 em Mônaco do ano passado, Bruno emocionou muita gente do meio. Venceu no circuito dominado por Ayrton ( foi seis vezes vencedor na F-1 ) com brilhantismo também. Velocidade, constância, poder de concentração, precisão e bom preparo físico, os predicados apresentados.Tudo isso será de extrema valia, agora na F-1, embora os desafios sejam maiores e a história mostre que não há cidadão capaz de afirmar nada sobre seu futuro, apenas que “ tem muito boa base “, como disse Ross Brawn.

Além da inexperiência na F-1, sua e da Campos, Bruno tem contra si o fato de ter bem pouco tempo de automobilismo. “Eu brincava de kart, quando tinha meus 10 anos, mas aí aconteceu o que todo mundo sabe e minha família, por razões óbvias, não queria nem ouvir falar de corridas”, diz Bruno. “ Foi só quando eu tinha 18 anos que chamei minha mãe [ Viviane Senna, irmã de Ayrton e diretora do Instituto Ayrton Senna ] e disse que queria me tornar piloto.”

Carreira relâmpago

A rigor, Bruno pode contar quatro anos de aprendizado nas pistas: 2005 e 2006, na Fórmula 3 Inglesa, e 2007 e 2008, na GP2. Em setembro de 2004, teve seu primeiro contato com um carro de corrida, um Fórmula BMW. E em 2009 disputou apenas três etapas da Le Mans Series, com modelos de turismo e não monopostos. Antes do teste com o F BMW, não sabia sequer se tinha aptidão para ser piloto. E isso já com 20 anos, idade com que vários pilotos estreiam na F-1, depois de pelo menos oito anos de competições no kart e outras três ou quatro temporadas com monopostos, entre eles Fórmula Renault, F-3 e GP2. “ Bruno compensa a falta de experiência com vontade, dedicação e elevada inteligência”, diz Paul Jackson, dono da iSport, equipe onde foi vice da GP2 em 2008. “ Bruno se interessa em aprender, é equilibrado e sabe crescer no acerto do carro ao longo do fim de semana”, afirma Gavin Bickerton Jones, seu engenheiro na iSport.

Humildade, simplicidade e um princípio que pode levá-lo a crescer na F-1: partir da premissa de que não sabe. “ Bruno não tem vergonha de dizer ‘ não sei ‘ . E é isso, aliado a suas características naturais favoráveis, como aprender rápido, errar pouco e ser veloz, que pode fazer dele um grande piloto na F-1”, diz Bickerton Jones. Para Paul Jackson, essa combinação explica o fato de Bruno ter começado tão tarde, com 20 anos, e chegar à F-1 relativamente bem preparado: “ Você fala uma vez e está assimilado. É um piloto técnico, que sabe exatamente o que faz”.

Flávio Briatore, ex-diretor da Renault, comentou no ano passado sobre Bruno: “ Ele me parece competente. Para ir à F-3 Inglesa e no primeiro ano no automobilismo conquistar pódios e poles, é porque no mínimo, é rápido. Agora, o que é cobrado na F-1 difere, muitas vezes, do que esses meninos fizeram até hoje. Pode tanto explodir como desaparecer”. Bernie Ecclestone é mais otimista. “ Por que não?”, afirmou, em resposta à pergunta sobre se Bruno podeter sucesso na F-1. “ Quase foi campeão da GP2 com bem pouca experiência. No mínimo tem talento. “

Revista Quatro Rodas

Por Lívio Oricchio