O documentário que conta a historia do brasileiro, tri-campeão de F1, Ayrton Senna, intitulado “Senna”, previsto para ser lançado em novembro, pode aparecer antes nos circuitos de festivais europeus.
A produção ainda não tem material de divulgação e tem foco na vida pessoal do piloto, bastidores da Fórmula 1 e casos como o seu namoro com a apresentadora Xuxa Meneghel.
O Instituto Ayrton Senna informou que o lançamento está previsto para o mês do GP do Brasil, que acontece no dia 7 de novembro em Interlagos. A irmã do piloto, mãe de Bruno Senna e presidente do Instituto, Viviane Senna, não confirmou se já teve acesso à versão final, mas a produtora britânica Working Title assegurou que o filme já está finalizado.
O britânico Asif Kapadia é o diretor do documentário sobre Ayrton, que conta a história do piloto a partir de imagens e declarações de arquivo do próprio ídolo, e inclui entrevistas com personalidades que fizeram parte de sua vida, como o rival Alain Prost e seus ex-chefes Ron Dennis e Frank Williams.
Vencedor do Bafta de melhor filme britânico em 2001 por “Um Guerreiro Solitário”, Kapadia comandou uma equipe de produção que conta com três brasileiros. Filho do cartunista Ziraldo, Antonio Pinto fez a trilha sonora original. A coordenadora de produção foi Raquel Alvarez, que trabalhou em “Jean Charles”. E o assistente de produção foi o jovem cineasta carioca Jonas Amarante.
"Ayrton Senna nasceu no dia 21 de Março de 1960. Aos quatro anos seu pai lhe deu um kart, feito por ele mesmo. Seu Milton era um apaixonado por corridas e dar um kart foi a maneira para controlar a inquietação do filho. Senna vivia correndo com seu kart pelas ruas do bairro onde morava.
Aos nove anos Senna correu pela primeira vez em uma corrida amistosa em Campinas, mesmo contra a vontade de seu pai que achava perigoso correr contra garotos mais velhos. A pole foi decidida em sorteio e Senna, predestinado largou em primeiro. Liderou por 35 voltas. Mas acabou sendo acertado a seis voltas do final. Saiu ileso do kart, mas olhando feio para o garoto que tinha lhe tirado a vitória.
Aos treze anos começou a correr de kart para valer. Gostava de montar e desmontar seus karts. Canhoto, se aproveitava para manter uma única mão no volante e bloquear a saída de ar com a outra para ganhar velocidade. Foi duas vezes vice-campeão mundial de kart. As corridas eram dividas em baterias; em uma delas caiu um um temporal, e cada acelerada de Senna vinha seguida de uma rodada na pista. Senna se irritou tanto que passou a treinar na chuva. Uma pequena garoa já era suficiente para ele correr para a pista.
Em 1981 Senna resolveu alçar vôos mais altos e foi correr na Europa. Competiu no campeonato de Fórmula Ford 1600 sendo campeão. Sentiu saudade da família e resolveu voltar ao Brasil, mas a vontade de correr foi mais forte e, em 1982 voltou para a Europa para correr na F2000, onde também foi campeão conseguindo 21 vitórias e 15 poles.
1983 foi um ano decisivo para Senna. Ganhou tantas corridas no circuito de Silverstone pela F3 inglesa, que os ingleses resolveram apelidar o autódromo de “Silvastone” em homenagem ao brasileiro. Ganhou 12 provas em 20, foi o campeão do Gp de Macau, tão charmoso na F3 quanto Mônaco é considerado na F1. Essa conquista, mais o título garantiram a Senna testes nas principais equipes da F1. Na Brabham com Piquet causou uma saia justa ao declarar que seu compatriota o barrou na equipe. Já na Williams impressionou a todos, pois mesmo sem nunca ter andado em um carro de F1 marcou um tempo mais rápido que os pilotos titulares da equipe. Recebeu o convite de Ron Dennis e de Frank Williams para ser piloto de testes, mas queria correr e acabou assinado com a pequena Toleman.
Em 84 chegou nos pontos logo em sua segunda corrida, mas foi no principado de Mônaco, palco de muitos espetáculos em sua carreira, que deu seu maior show na temporada. A corrida iniciou em baixo de chuva, Senna largou em 13º, mas logo foi ultrapassando um á um, passou por Lauda e passou a perseguir Prost. Chegou no francês e passou, mas os organizadores resolveram encerrar a prova no exato momento em que Ayrton ultrapassava o francês. O regulamento mandava que se contasse a penúltima volta, sendo assim Senna foi segundo. Foi o suficiente para chamar a atenção das grandes equipes, e Senna assinou com a Lotus para correr em 85. Logo em sua segunda corrida fez barba, cabelo e bigode; debaixo de chuva cravou a pole, fez a volta mais rápida e ganhou de ponta a ponta.
Nos três anos de Lotus (85,86 e 87) conseguiu seis vitórias e 16 poles. Mas mesmo disputando grandes batalha com Piquet, Prost e Mansell, nunca teve uma real chance de ser campeão.
Em 88 com apoio dos japoneses da Honda e com a admiração de Ron Dennis, seguiu para a McLaren. Era tudo que precisava; menos o fato de ter Prost como companheiro de equipe. O carro era imbatível e o talento dos dois indiscutível. Senna ganhou oito provas e Prost sete. No meio do campeonato Prost já parecia jogar a toalha, dizia não ter mais o pique que Senna tinha, já era bi campeão e não era tão novo para atingir os riscos que Senna corria na pista. Foram 13 poles de Senna contra apenas duas do francês. Enfim Senna foi campeão.
Em 89 todos os carros passaram a ter motores aspirados. Mansell foi para a Ferrari. O domínio na Mclaren já não era tão grande, mas Senna ganhou seis corridas contra quatro de Prost. Senna teve problemas de durabilidade com seu carro. Ele e Prost se desentenderam e pararam de conversar. Com mais regularidade Prost chegou à penúltima prova com vantagem, Senna precisava ganhar as duas. Prost largou na frente e quando Senna foi ultrapassá-lo o francês jogou seu carro para cima do carro do brasileiro. Senna ainda voltou para a pista mais foi desclassificado em uma jogada de Balestre, o chefão da época na F1 que assim como Prost era francês.
O incidente de 89 foi o principal responsável pelo desfecho da temporada de 90. Dessa vez era Senna que levava vantagem. Na largada Senna não pensou duas vezes e jogou sua Mclaren para cima da Ferrari de Prost. Pronto, estavam empatados em acidentes e Senna era bi-campeão.
1991 parecia um ano arrasador para Senna: ele ganhou as quatro primeiras corridas da temporada (Incluindo Brasil), enquanto Prost penava com sua Ferrari. Mas o verdadeiro adversário de Senna naquele ano não seria Prost e sim Mansell com sua revolucionaria Williams Renault, um carro que demorou a ficar no ponto, mas quando ficou parecia imbatível. Senna de caçador virou caça, e pelos estilos de Senna e Mansell, esse acabou sendo um dos campeonatos mais emocionante da história. Ambos andavam no limite, mas ao contrário da disputa com Prost, de uma maneira totalmente limpa. Senna levou a melhor no braço e se consagrou como tri-campeão mundial.
Em 92 a Mclaren levou um duro golpe com a Honda anunciando que deixaria a F1 no final do ano. Pra piorar o carro da Williams com suspensão eletrônica era de outro mundo. Senna não pode fazer nada e Mansell finalmente conseguiu o título. Mas Senna conseguiu três vitórias e deu show em Mônaco, segurando o leão de todas as formas. Senna estava decidido a correr na Williams, mas seu eterno rival Prost que havia sido demitido da Ferrari no final de 91, aproveitou do fato da Renault ser francesa e assinou com a equipe, barrando em contrato a contratação de Senna. Senna ficou frustrado, cogitou até em parar de correr. Emerson Fittipaldi o convidou para testar seu carro na Indy e Senna aceitou, mas só para conhecer mesmo.
Permaneceu na Mclaren em 93, correu com um motor Ford inferior ao da Benetton de Schumacher, e mesmo assim deu show. Ganhou cinco provas (a segunda no Brasil), se consagrou em Mônaco como o novo Mr. Mônaco ao conseguir seis vitórias e chegou a liderar o campeonato mesmo Prost estando no chamado carro do outro mundo. No GP da Europa largou em quarto, caiu para quinto e antes da primeira volta assumiu a ponta para não perder mais debaixo de chuva. Para muitos mesmo sem ser campeão, essa foi a sua melhor temporada. Como curiosidade, cinco anos depois de ver Prost reclamando de sua agressividade na pista, foi a vez de reclamar do ímpeto de Schumacher que tal como Senna no começo de carreira, não media esforços para atingir seu objetivo.
Como que em um efeito dominó a geração de 80 foi se despedindo da F1. Primeiro foi Piquet em 91, depois Mansell em 92, e por fim Prost resolveu se retirar ao final da temporada de 93. Senna finalmente assinara com a Williams e assumiria o carro dos sonhos em 94. Dos quatro citados acima, Senna era o Dartanhan, o mais jovem e o que tinha mais talento, e com a retirada dos três mosqueteiros, vê-lo novamente campeão era um certeza como a que temos de que o Sol nasce todo dia. Mas o destino assim não quis. Primeiro a FIA barrou toda a tecnologia da F1, o que fez com que a Williams tivesse um carro problemático. Depois o carro da Williams tinha sido feito sobre os moldes de Damon Hill, já que Senna por uma questão de contrato com a McLaren, só poderia andar de Williams em 94. O volante do carro raspava no joelho de Senna e ele pediu para que o cano que sustentava a barra de direção fosse diminuído. A Williams atendeu seu pedido, mas ao invés de fazer uma peça nova, serrou a que tinha e soldou deixando-a menor.
Desde a época da McLaren os engenheiros se impressionavam com a capacidade de Senna de descrever sobre o desempenho do carro. Ele parecia um computador. Dizia a temperatura dos pneus mesmo antes de os dados chegarem para a equipe. Naquela época os computadores não eram tão rápidos como hoje. Na Williams Senna reclamava do carro como alguém que tem conhecimento de causa do que falava, mas a equipe achava que se tratava de um capricho. Na pré-temporada, por exemplo, em uma sequência de curvas em ziguezague o carro de Senna simplesmente saiu da pista, do nada.
O campeonato começou com Schumacher com um carro bem mais equilibrado e fora das regras, mas com consentimento da FIA, pois não queria o domínio de um só piloto; Senna acabou levando a melhor nas duas primeiras corridas. Rodou a seis voltas do final no Brasil, e bateu na largada no Japão.
Eis que chegou Imola. No dia 30 de Abril Barrichello, com quem Senna tinha passado uns dias de férias na Disney do Japão, sofreu um grave acidente, que abalou Senna. No sábado dia 31 de Abril foi a vez do austríaco Roland Ratzenberg sofrer um acidente grave, que dessa vez foi fatal.
Ao ver o acidente, Senna foi até o local e decidiu abandonar o treino. Ele não queria mais correr, sabia que o carro era problemático e a pista estava perigosa. Na noite de véspera da corrida procurou Frank Williams pedindo para não correr. Frank o alertou sobre as punições de não correr.
Chega o 1º de Maio de 1994 e as imagens em si que estão na cabeça de quem viu dizem mais do que mil palavras. Senna olhando para o carro no boxe, passando a mão no aerofólio traseiro. Depois na posição de pole na linha de largada, olhando ao nada com um olhar distante. A largada com J.J Lehto sofrendo mais um acidente as intermináveis cinco voltas com o Safety Car , a relargada e a última volta lançada com o carro tal qual nos testes de pré-temporada saindo da rota, do nada."
Escrito por Ricardo Cesar tirado do site Velocidade.