Foi lá que o Bruno Senna aprendeu a pilotar aos cinco anos de idade.
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Bruno mostra a F1 Racing este lugar "secreto" e conta sobre como foi viver com o maior nome do esporte motorizado além de sua ansiedade na espera da estréia na F1.
Na prateleira há uma mala cor de mostrada com frisos marrons coberta de poeira cujo zipers está emperrado com tanta ferrugem. Presa a ela tem uma etiqueta azul e branca da Japan Airlines, cujas pontas se enrolam ao longo dos anos. O nome do dono ainda pode ser visto , A. Senna - Suzuka International Hotel.
"vamos ver o que tem dentro? sorri Bruno Senna. "Aposto que ela não foi aberta desde..."
Ele para e fica quieto, como se pensando nas palavras necessárias para terminar a frase.
Ambos sabemos que essa mala não é aberta desde que seu dono a fechou pela ultima vez, 16 anos atrás. " típico do Ayrton", Bruno ri, ao abri la. "Está cheio de motores de kart".
estamos em uma construção anexa na fazenda de Ayrton Senna, a duas horas de carro do centro de São Paulo. Bruno Senna não vem aqui há tempos. Quando criança, visitava o lugar todo fim- de- semana para ver um hoemem que ele idolatrava e adova seu tio Ayrton.
A fazenda guarda tantas memórias para ele, a maioria de felicidade, mas, para Bruno, provavelmente mais do que para qualquer outro membro da família, o lugar tem valor simbólico. Foi aqui, num circuito projetado e construído por seu tio,que o jovem aprendeu a pilotar. Foi aqui que ele ganhou sua primeira corrida. E foi aqui que ele aprendeu as mais importantes lições em filosofia de corrida do homem conhecido por todos como o maior piloto de corridas que o mundo já viu. a pista ainda está em perfeitas condições, e os boxes na mesma condição imaculada que deviam ter quando a ela foi inaugurada, 20 anos atrás. mas tudo está quieto e fora de uso há muitos anos. o asfalto que um dia foi cinza azulado agora está manchado com o solo rico em argila da região e anos de sujeira acumulada. As linhas do grid de largada sumiram. só restam a linha de chegada e os boxes para contarem a história.
Tudo isso trás muitas lembranças, suspira Bruno, de olho no kartódromo. Eu me lembro da minha primeira corrida que ganhei nessa pista e, depois, Ayrton brincando, comigo e me chamando de pé de breque ao que respondi, eu não, você que e o pé de breque aqui, porque os seus pneus gritam nas curvas de tanta freada. Acho que isso ate já esta no YouTube, acredita Bruno. Meu avo me pôs num kart quando eu tinha cinco anos de idade e eu aprendi o básico com ele. Mas ai o Ayrton passou a me ensinar e a gente costumava se divertir muito. Ele tentava também me ensinar o lado das corridas, como por exemplo não tentar ultrapassar por fora; o que nem dei ouvidos, já que adoro ultrapassar por fora; e todos dos detalhes sobre pneus, como se preparar para uma prova, preparar os karts, todo esse lado mecânico ele me ensinou. Eu não tinha opção, sempre tive que aprender como preparar meus proprios karts e como acerta;los. E uma pena que não haja espaço suficiente aqui para uma pista de tamanha grande. Eu iria viver aqui se tivesse. Meus avós vivem aqui agora, mas acho que eles iam acabar aceitando.
A aceitação da família por sua decisão em se tornar piloto, como o tio, não foi fácil para Bruno Senna. Quando Ayrton morreu, em 1994, a carreira de Bruno no kart foi interrompida imediatamente. Sem discussão, sem perguntas. Não haveria mais corridas para a família Senna. Depois do acidente do Ayrton tive de parar. Eu procurei entender a dor da família, e foi bem difícil porque, para ser honesto, aquilo era minha vida. Não correr era como ter um buraco enorme dentro de mim, mas eu tinha que aceitar porque era minha família.
Mas se a dor de perder um tio e herói foi difícil para o jovem brasileiro, a morte de seu pai num acidente de moto, pouco tempo depois derrubou seu mundo de vez. Foram grandes perdas para a família, reflete ele. Todo mundo se sentiu arrasado. O que nos manteve unidos foi o apoio que a familia inteira se aproximou e partilhou a forca e, para mim, foi a mesma coisa. Eu perdi duas pessoas importantissimas na minha vida, mas pude contar com uma otima família, bem estruturada, para conseguir superar tudo isso sem muitos estragos.
A atracão pelas corridas de carro era simplesmente forte demais para Bruno ignorar e, apesar de ter perdido o irmão e o marido, sua mãe Viviane apoiou com alguma relutância a decisão de seu filho em seguir os passos do tio. Foi uma decisão que causou muito debate no mundo das corridas. E claro que estamos acostumados a segundas geracões de pilotos; os Hills, os Villeneuves, os Andrettis, os Rosbergs e os Piquets do mundo da F1 provaram, com graus variados de sucesso, que o gene da velocidade pode ser passado adiante na mesma familia. Mas para Bruno Senna era diferente. Ele não e um descendente direto. E, para alguns criticos, o mais questionável e que um homem nascido Bruno Lalli use o nome Senna para inicio de conversa. Não posso negar que o nome me ajudou bastante nas corridas, admite bruno, mas se voce quer começar e melhor começar longe dos holofotes para aprender primeiro e depois ficar bom e famoso. Porem, eu nunca tive essa chance. Tive que encarar a pressao e acho que mesmo que tivesse começado usando o nome Lalli, assim que o pessoal descobrisse, iam comecar a me chamar de Senna de qualquer jeito, então não faz a menor diferença.
Ao tomar essa decisão, entretanto, Bruno colocou um enorme peso de responsabilidade em seus jovens e relativamente inexperientes ombros. O nome Senna não e só um nome importante na F1,ele e o nome da F1. Do mesmo modo que a Lotus não pode voltar a formula 1 em2010 e fazer feio, a pressão sobre Bruno para nao fazer nada que possa manchar a reputação do nome da família deve ser enorme. Honestamente, tem mesmo muita pressoa. mas acredito que, por mais que as pessoas queiram que eu seja o Ayrton, eu não sou. Ayrton Senna e uma coisa, Bruno Senna e outra. Claro que se eu fizer algo que prejudique a reputacao do nome em termos de conduta pessoal é uma coisa, mas se eu me sair mal nas pistas será apenas porque eu não sou bom o suficiente e só isso.
E claro que a pressão sobre ele deve ser aliviada um pouco por estar na novata Hispania, uma das tres equipes que estão estreando na F1 nessa temporada. Mas, por esse mesmo motivo, sua chance de brilhar sera igualmente menor e a chance de as pessoas o criticarem, bem maior. Com toda essa pressão, então por que faze lo Ele não se retrai diante de sugestões de que teve uma vida privilegiada, entao nao seria mais facil escolher outra carreira- Corridas de carro não e o caminho mais facil que voce deve escolher e algo que exige muito. Mas eu adoro carros e corridas....sempre adorei. Obviamente tem a influencia de Ayrton, da historia da minha família, mas nunca me forcaram a isso. Eu amo isso tudo por natureza. Eu me sinto em casa cercado de carros e, quanto mais eu corro, mais eu quero correr. Fica melhor a cada dia, por isso acho que eu fui programado desse jeito quando era pequeno.
Deixamos o kartodromo para trás e seguirmos para um dos muitos armazens nesta fazenda produtiva. Tem um trator pronto pra colheita no espaço principal do edificio e uma escada de madeira no canto. Alguém disse que pode ter uns karts aqui em cima, ri Bruno, subindo as escadas. Olha so... ele para no topo. Sobe aqui....voce precisa ver isso.
E um comodo pequeno, mas no canto atras de uma pequena replica de Lotus 98T estao seis karts, os dois no fundo estão cobertos de poeira e teias de aranha. Ele aponta para um. Esse e o kart do meu primo, o primeiro 125 cm que pilotei na vida. Aquele, o 42, era o kart do Ayrton ; e atrás dele esta o kart com que ganhei minha primeira corrida. Eu tinha só sete ou oito anos naépoca. Olhe so essas marcas de pneu na carroceria! Lembro uma vez que teve uma corrida aqui e meu kar quebrou. Eu fiquei desapontado pra cacete vendo todo mundo correndo. Foi um problema de motor. Mas eu costumava pilotar esse kart o dia inteiro, por isso da para entender.
Enquanto Bruno aguardava ansioso sua estreia na formula 1 e seu primeiro grid na categoria, estava aqui, diante dele, o kart com que conquistou sua primeira vitória.
Bruno entende a profundidade do momento e sua vontade de subir num carro de corrida volta ao foco. Isso trás tantas lembranças das corridas, dos testes, de todas as vezes que estive aqui e já faz tanto tempo, muito tempo que nao vejo os karts, meu primeiro kart. Eu nem lembrava que tinha tantas marcas de pneu na carroceria. Da vontade de sair pilotando ele de novo.
Depois de chegar tão perto de estreiar na F 1 pela Brawn, em 2009, ele foi forçado a ficar praticamente parado na temporada passada devido a equipe inglesa ter optado pelo Rubens Barrichello. Foi uma temporada atípica pilatando protótipos nas provas de resistencia antes de poder fazer sua estreia na F 1, mas isso também significa que Bruno tem algo em comum com um tal de Michael Schumacher.
"Eu nao percebi isso, mas se funcionou para ele quem sabe...Pode funcionar para mim." Acho que nas duas primeiras corridas vou precisar desenferrujar um pouco já que não piloto nesse nível nem nesse tipo de competição há algum tempo, mas aprendi um monte de coisas novas e me tornei mais estrategista. Aprendi muitas coisas que nao se aprende na GP2 ao participar das 24 horas de Le Mans. Acho que vamos ter que esperar para ver como isso me influenciou, mas espero que seja de um modo positivo.
A ansiedade para sentar no F 1 era visível em Bruno. Mal posso esperar. Acho que vou sentir muito frio na barriga. Claro que vou colocar muita pressão sobre mim mesmo mas nao sei o que esperar. Vai ser bem legal. Lembro do meu primeiro teste num F1, foi em Barcelona eu estava pilotando na mesma pista na qual estava uma Ferrari, uma McLaren e uma Renault. Era difícil de acreditar. Estava pilatando com eles, passando por eles e sendo ultrapassado por eles e ai pensei "Qual é....isso e mutio louco!"
"Era meu sonho e estar chegando perto de ser realizado, e acho que quando voce esta no mesmo padock, no briefing de pilotos com todos esses caras vai ser interessante ver como é realmente a F1.
Para qualquer fã de corrida de carro a fazenda de Ayrton e a Granceland da F1. Mas para Bruno é simplesmente a casa de seus avós, um lugar para se visitar para relaxar quando tem uma chance. Há momento para ele em que seu tio Ayrton Senna é a mesma lenda que é para o resto de nós?. Ou ele é sempre só o tio Ayrton? Para mim ele é e sempre será o tio Ayrton porque ele é da familia... Mas também é o Ayrton, a maior referencia na minha carreira e na minha vida tambem. Se eu pudesse ter competido com ele, teria sido a maior alegria da minha vida. Eu vivo para competir com os melhores porque quero ser o melhor que posso para correr com os campeoes.
Depois de uma longa espera, finalmente bruno senna conseguiu sua chance. Há muito tempo ele carregava nao só o peso do nome, mas também a necessidade de fazer seu próprio nome. Além disso, também tinha a pressão levantada por uma frase dita pelo o próprio Ayrton pouco antes de morrer. "Se voces acham que eu sou bom, esperem só para ver o meu sobrinho."
Sem pressao, entao. Sem pressao, ri Bruno, vai ser moleza.
Revista F1 Racing