Blog Sem Fins Lucrativos, somente com o intuito de divulgar a carreira do piloto Bruno Senna e o IAS. Carol Lo Re

domingo, 11 de março de 2012

Emocionada, Viviane Senna lembra Ayrton e torce por Bruno na Williams

Irmã do tricampeão mundial, que há 18 anos morreu guiando um carro da equipe inglesa, fala sobre os laços de família e a pressão sofrida pelo filho


Ela chega tímida. Viviane é tímida. Sempre bem vestida, sempre carinhosa. Entre as lembranças do irmão, Ayrton Senna, ela agora também se vê no papel de mãe de piloto, justamente num momento em que o filho Bruno ingressa na Williams, última equipe do tricampeão mundial de Fórmula 1. A voz é baixa, a fala é mansa e as palavras vêm com conteúdo. Afinal, é ela a responsável por um projeto idealizado por Ayrton, mas que ao longo dos anos se tornou realidade através de suas mãos e de sua liderança feminina. Viviane é presidente do Instituto Ayrton Senna.

Após o acidente fatal do piloto, no GP de San Marino de 1994, ela tomou para si a missão de ajudar de diversas formas a educação das crianças brasileiras – um antigo desejo do tricampeão. Em quase 18 anos de atuação, mais de 13 milhões de crianças, de 25 estados do Brasil, já foram beneficiadas. O IAS atua junto a centenas de instituições, auxiliando, por exemplo, na capacitação de professores, para potencializar o aprendizado das jovens em idade escolar. Um trabalho marcado por uma característica da família Senna.

- O Ayrton investia para ter resultados. Ficava horas reunido com os engenheiros, estudava as pistas, o carro, treinava... Tudo isso para ser o melhor, não para ser mais ou menos. Ter sucesso na vida, infelizmente, é exceção neste país. É preciso mudar a regra, virar este jogo. Eu acredito no potencial das pessoas, acredito em uma realidade na qual elas possam se dedicar à própria natureza. Isso não é uma escolha, é uma decisão ética – frisa Viviane.

A determinação, a atitude, o desejo de fazer direito: valores transmitidos pelo pai, Milton. Por causa dele, Ayrton Senna ganhou o primeiro kart – construído artesanalmente pelo próprio pai – e começou ali sua caminhada rumo ao sucesso na categoria máxima do automobilismo. No começo, tudo foi tratado como uma brincadeira, mas rapidamente todos perceberam que eram as corridas que traziam o brilho ao olhar de Ayrton.

- Ele fabricou um brinquedo para o filho se divertir, mas não imaginava que, por estas coisas que ninguém explica, aquele menino tinha uma excelência na questão de tempo e espaço. Sem contar que ele desmontava e montava aquele kart milhões de vezes. Ayrton era muito focado, persistente, foi para a Europa e conquistou o título na Fórmula Ford. Meus pais falaram, "ótimo, já ganhou, já se realizou", e ele voltou para o Brasil para cuidar dos negócios da família. Nunca se revoltou, mas perdeu o brilho, ficou feito uma lâmpada apagada. Tanto que, logo depois, percebemos que era melhor ele seguir aquele caminho e deu no que deu – relembra a irmã do piloto.

Ayrton não desistiu de seu sonho. Não só chegou à Fórmula 1, como venceu 41 corridas, marcou 65 poles e conquistou três títulos mundiais. E a vida é tão cheia de surpresas que, muitos anos depois, a história se repete na família Senna, agora com a mãe Viviane. Depois de perder o irmão em 1994, o marido em 1996 em um acidente de moto, ela ouviu do filho que ele havia tomado uma decisão: ser piloto de Fórmula 1.

- Nunca imaginei que o Bruno quisesse ser piloto. Para mim, era mais uma brincadeira, uma coisa de criança, adolescente. Ele foi muito respeitoso em esperar até os 18 anos para me falar isso, mas eu tomei um susto, fiquei paralisada. Me passou todo o filme na cabeça... 'Enrolei' o Bruno durante quase três anos, até que um dia, sozinha num quarto de hotel durante uma viagem de negócios, uma voz me disse: "você está atrapalhando o seu filho". Logo eu, que trabalho para que as pessoas sejam elas mesmas, que sei que é uma crueldade não deixar que elas desenvolvam sua própria natureza. Não tinha o direito de fazer isso com meu próprio filho. A partir dali, demos todo apoio para ele – comenta, sem conter as lágrimas.

Rumo à Fórmula 1

Bruno virou piloto. O começo, no kart, foi complicado. Aos 18 anos, com mais de 1m80, ele já estava grande demais para aquela fase de aprendizado. Tanto que quebrou seis costelas em menos de um ano – o que lhe rendeu um apelido carinhoso entre os colegas, revelado por Galvão Bueno nas transmissões das corridas: 'Costela'. A solução foi iniciar sua trajetória no automobilismo. Viviane ligou para o amigo e ex-companheiro de Ayrton, o austríaco Gerhard Berger, e buscou orientação.

Assim, Bruno deu os primeiros passos, ou melhor, as primeiras aceleradas nos autódromos da Europa. Em cinco anos, um caminho meteórico até a F-1, passando pela F-3 Inglesa, a GP2 e o primeiro teste na principal categoria do automobilismo, em 2008. Após um ano pela fraca Hispania, Bruno marcou os primeiros pontos em menos de meia temporada no lugar de Nick Heidfeld na Renault (atual Lotus). Em 2012, aos 28 anos, Bruno teve, enfim, a chance de iniciar um trabalho desde o começo, participando da pré-temporada pela equipe Williams. Logo a Williams, equipe para a qual o tio Ayrton Senna pilotava quando morreu, 18 anos atrás. Apesar das lembranças, Viviane diz que jamais pensou em vetar a equipe.

- O que importa é a equipe dar as melhores condições para o Bruno desenvolver a capacidade dele. Eu tinha medo é da Hispania. Eles não tinham peças para trocar, então quebrava alguma coisa e era remendado para a corrida seguinte. Você nunca sabia qual a próxima coisa que ia quebrar. Aquela sim, era uma equipe de risco. Claro que algumas lembranças são inevitáveis. Quando ele visitou a fábrica da Williams, deu um susto em um engenheiro, que pensou ter visto um fantasma do Ayrton – conta, descontraindo o ambiente.

Bruno tem o olhar do tio, a voz parecida, o mesmo sobrenome. Mas ali, no cockpit, a partir de domingo que vem, será apenas o Bruno. Uma cobrança que Viviane destaca como grande, mas que admite: ele sabe diluir a pressão de um sobrenome famoso de uma maneira melhor que ela própria.

- As pessoas lembram do Ayrton vencedor, campeão, mas poucos lembram que ele ralou muito para chegar lá, levou anos para conquistar o primeiro título. O Bruno saiu do zero e foi para a F-1 em cinco anos. É uma comparação desigual com quem já está lá há tanto tempo, que fez isso a vida toda. Essa semelhança ativa coisas boas nas pessoas, mas também gera muita pressão, só que ele é um menino muito equilibrado. Ele lida muito bem com isso, não se confunde, não tenta ser o Ayrton. Só quer realizar o sonho de fazer o que gosta, de ser um piloto de Fórmula 1 – analisa Viviane, orgulhosa pelo filho.

A temporada 2012 da Fórmula 1 começa no próximo domingo, com o GP da Austrália, em Melbourne, com transmissão ao vivo da TV Globo.

Fonte: Globo.com

Por Glenda Kozlowski e Alexander Grünwald